PNBE 2010: leituras possíveis

Metodologia

Esta pesquisa elege a abordagem qualitativa, conforme Lüdke e André (1986). O caráter descritivo predomina no material levantado, contemplando diversos aspectos presentes no fenômeno estudado. A análise dos dados tende a seguir um processo indutivo e não há preocupação em evidenciar a comprovação de hipóteses estabelecidas anteriormente. Na pesquisa qualitativa em educação é aceita a interação entre o pesquisador, como sujeito que conhece, e o fato pesquisado. A pesquisa de campo também é relevante na obtenção de resultados que não podem ser encontrados em investigação de cunho bibliográfica.

O processo investigativo é pautado pela flexibilidade que caracteriza os estudos exploratórios, utilizando como quadro teórico inicial concepções que visem à autonomia do ser, no que se refere a princípios sobre educação – através de estudos de referenciais obtidos em Morin (2002), que destaca a “interação e a transformação” que qualificam o ser humano, tratando o indivíduo como sujeito coletivo que aprende a conhecer através do “diálogo e da interrogação”. A educação tem como objetivo essencial o desenvolvimento do ser humano na sua dimensão social. Portanto, define-se como veículo de culturas e valores, como construção de espaço de socialização e de preparação de um projeto comum, para criar meios necessários a uma cidadania consciente e ativa, realizada plenamente num contexto de sociedade democrática. Edgar Morin afirma que a literatura, a poesia, o cinema, as artes não podem ser estudadas apenas de modo formal, exterior. Tais linguagens também falam profundamente de nós mesmos e defendem a subjetividade humana no centro do processo. Enfim, a literatura contribui para o conhecimento do ser humano, das relações entre as pessoas, da sociedade e dos tempos históricos (2002). Já os princípios norteadores deste estudo sobre textos, leitura e práticas leitoras são buscados em Chartier, Iser, Zilberman e pesquisadores do CEALE/FAE/UFMG. Chartier (2002) concebe no estado atual das práticas leitoras uma coexistência de muitos meios, com todas as tensões características das mudanças na cultura. Diante de novos suportes de leitura e de linguagens presentes na sociedade atual, a palavra e a imagem se hibridizam, e é necessário reformular o conceito de texto e de leitura. Iser (1996) enfatiza o papel do leitor no processo de leitura do texto, definindo-o como coautor do texto. A sua teoria da recepção propõe que o efeito estético é o resultado do impacto que a obra causa no leitor, cuja leitura privilegia um diálogo intenso entre texto e leitor. Zilberman, a partir de Jauss, constrói um estatuto para a literatura infantil, destacando o caráter emancipatório do gênero. Os pesquisadores citados, assim como o grupo de investigadores do CEALE, podem contribuir para o desenvolvimento de práticas leitoras que promovam o letramento dos estudantes.

Os princípios discutidos nesse quadro teórico sustentam as análises e almejam a criação de métodos e técnicas para a aprendizagem da leitura de livros literários destinados à infância na contemporaneidade. A discussão proposta focaliza o conhecimento sobre articulações entre linguagem, as implicações para a educação e para as práticas leitoras, focalizando a leitura de livros literários selecionados pelo PNBE 2010. Os dados serão coletados na observação de situações de leitura e utilizados para a criação de estratégias/técnicas de ensino, na apropriação das diversas modalidades de textos presentes no acervo. Pretende-se, pois, analisar textos destinados à infância (preferencialmente narrativas – contos tradicionais, narrativa verbo-visual contemporânea, narrativa visual, histórias em quadrinhos e poesia), utilizar a observação direta de experiências de leitura, entrevistas e a aplicação de roteiros semiestruturados, e, a partir daí, integrar os dados obtidos para construir propostas de ensino da leitura adequadas a esses textos. Provavelmente este estudo trará informações que poderão contribuir para as práticas pedagógicas de leitura e também apontarão aspectos não previstos, dada a natureza complexa do objeto de estudo.

Etapas: apropriação de referencial bibliográfico; seleção e análise dos livros literários a serem estudados; identificação do campo de observação, delimitação de sujeitos leitores: estudantes do Ensino Fundamental (4º e 5º ano pela nova legislação de 9 anos); elaboração de sequências didáticas; aplicação de roteiros; tratamento e interpretação de dados; instrumentalização docente; elaboração de registros e relatório final.